SONHO VERMELHO REALIZADO
Ana Flávia é aprovada e se torna a segunda mulher do PD Eldorado a se tornar Vermelha
FOTOS: BRUNO TRINDADE
BRUNO TRINDADE
Ana Flávia. A mais nova dançarina
Vermelha do Pé Descalço. A segunda mulher do Eldorado a alcançar tal feito. A
conquista histórica e marcante foi um sonho de dança que se realizou. Mas não
foi nada fácil. Ela teve que persistir muito até chegar ao colar da Vermelha.
No entanto, não pense que isso representou um sofrimento. Muito pelo contrário.
As seis reprovações e o aprendizado, muitas vezes detalhado e minucioso, foram
acompanhados da felicidade por simplesmente dançar. E amar aquilo que ela faz.
Mesmo com a preparação e evolução
ao longo dos anos, a Ana teve que se superar mais uma vez para ser aprovada.
Exatas 521 pessoas estavam lá, em volta dela, torcendo para o seu sucesso e
vibrando a cada passo executado durante o xote, o rastapé e o baião.
A energia do público era
contagiante para todos os presentes. E para a Ana? Em entrevista ao blog PD
Eldorado, a nova Vermelha falou dos sentimentos na hora do exame, do nervosismo
e da ansiedade, das homenagens, da energia da torcida, dos examinadores, da explosão
de alegria ao ser aprovada e do que ela terá que encarar, a partir de agora,
com o status de Vermelha na dança.
Bruno Trindade: O que você sentiu quando te chamaram para fazer o exame
da Vermelha?
Ana Flávia: Quando eu estava lá
no meio, eu senti felicidade, emoção, alegria. Eu senti que era a hora de
transmitir pra todo mundo a energia boa e positiva que eu estava sentindo.
Qual foi a parte em que você ficou mais nervosa?
A hora do baião, com certeza. Foi
a hora que eu falei ‘é agora, a hora do aéreo’. Acho que foi por causa do
aéreo. Querendo ou não, todo mundo tem uma expectativa maior na música mais
rápida. Acho que é na música mais rápida que você realmente mostra o seu
desenvolvimento na dança. Por isso, eu fiquei um pouco mais nervosa.
Em qual momento você ficou mais emocionada?
Eu fiquei muito emocionada no
xote, por ter sido com o Luiz. E também no início, com as homenagens. Eu senti
que todo mundo estava junto comigo.
Quando anunciaram o nome do Luiz, um grande amigo seu, como o examinador
do xote, o que você pensou?
Na hora, eu nem acreditei. Fiquei
muito emocionada, até chorei. Foi uma surpresa muito grande porque ele é uma
pessoa especial e porque estava ali em um momento especial para mim. Foi uma
coisa mágica, maravilhosa mesmo... sensacional.
Porque você achou que não ia passar depois que prestou o exame?
É muita responsabilidade. E como foi o meu primeiro exame, acho que foi mais
questão de insegurança mesmo. Eu gostei do meu exame. Mas fiquei com aquela
sensação de que podia ter feito mais.
E como foi aquele momento de ter que esperar até o último nome para ouvir
que você foi aprovada?
Eu fiquei muito surpresa, muito
mesmo. Eu realmente pensei que o último nome seria de qualquer uma das outras
pessoas que ainda não tinham tido o nome falado. Menos o meu. Eu já estava
preparada e não ia ficar triste se eu não tivesse passado. Mas eu fiquei
extremamente feliz por ter sido aprovada... e emocionada (risos).
Como é ser um Vermelha?
É ter uma responsabilidade muito
grande dentro de uma escola de dança, porque você acaba sendo referência para
todos os níveis. Ainda mais aqui no Eldorado. A primeira Vermelha foi a Gil. E
agora, a segunda sou eu. É muita responsabilidade você ser a mulher do nível
mais alto dentro de uma escola, ser realmente uma referência. Mas é muito bom,
é uma gratidão muito grande, é um amor, uma paixão mesmo pelo Pé Descalço.
O que mudou desde antes do exame, em que você não era uma Vermelha, para
agora, depois de tudo que aconteceu durante e depois da sua apresentação?
Eu estou me sentindo mais segura.
Querendo ou não, eu fui reconhecida. E eu estou muito feliz por isso. Acho que
foi isso que mudou. O reconhecimento que agora as pessoas têm por eu ser uma
Vermelha.
O que as homenagens representaram para você naquele momento?
As homenagens são as coisas que
te dão força, que te dão um gás a mais na hora do exame. Ali você vê, de
verdade, que todos estão com você. E que você tem que dar tudo de si porque
todo mundo que está te apoiando. São extremamente importantes as surpresas, as
homenagens. Mostra, realmente, para a pessoa que está ali no meio, que ela é
querida e que todos estão com ela, independentemente de qualquer coisa.
Tem alguma homenagem que você gostou mais, ou que te chamou mais a
atenção?
É difícil falar porque, para mim,
todas foram sensacionais. O pé enorme, que é do meu tamanho, com as fotos de
momentos que eu vivi dentro do Pé Descalço, me surpreendeu muito porque foi
inovador, nenhuma outra pessoa tinha tido uma surpresa desse jeito. Fiquei
muito surpresa com tudo. Mas a faixa que eles levantaram logo depois do rastapé
“Não sei com quantos paus se faz uma canoa, mas com seis se faz uma Vermelha.
Vai Ana!”, cara... Essa faixa me deu muito gás. No vídeo, dá pra ver que eu fui
à loucura. Essa faixa me fez pensar rapidamente em toda a minha trajetória
dentro do Pé Descalço e me dar gás para mostrar o que eu sabia ali no meio na
hora do baião.
Na hora do exame, passou um filme na sua cabeça de tudo que aconteceu
até você chegar naquele momento?
Acho que o filme passa depois que
acaba o exame. Aí, você começa a refletir sobre o fato de ter feito o exame da
Vermelha e que foi o último exame de colar. Quando você está lá no meio, você
pensa tanto em descontrair, que você não pensa muito em sua trajetória. Você
acaba ficando ansioso, nervoso, e muito feliz por estar ali no meio. Mas logo depois
do exame, quando acaba o baião e todo mundo vai te abraçar e te dar os
parabéns, aí começa a passar um filme na nossa cabeça.
E que filme passou na sua cabeça. Quais partes você poderia destacar?
Poderia destacar, principalmente,
a minha trajetória de Preta pra Preta Avançada. Foi uma trajetória longa, de
quase três anos. E quando eu consegui passar pra Preta Avançada, eu consegui
deslanchar até a Vermelha, já que tomei só um pau no Pré-Exame. Depois consegui
passar direto. No período da Preta pra Preta Avançada eu tomei muito pau, mas não
me arrependo de nada. Por mais que tenha passado só no quinto exame, acho que
foi só no quinto exame que eu estava preparada para passar. Os paus e as
reprovações foram justos até eu chegar onde eu estou hoje.
O seu baião foi a música “Forró do Rei”, do Trio Virgulino. Virou uma
música mais especial para você depois disso?
Com certeza. Eu fiquei
extremamente feliz e surpreendida quando meu baião começou a tocar e era o
“Forró do Rei”. Tanto é que eu fui à loucura, me deu um gás que não tem como explicar.
Hoje, toda vez que toca “Forró do Rei”, eu fico arrepiada, emocionada e me
lembro de tudo que aconteceu no dia 3 de outubro.
Qual foi o primeiro ato como Vermelha? Já teve algum compromisso
oficial?
Assim que eu passei pra Vermelha,
o Rick veio me abraçar e me perguntou se um dia depois, eu já podia dar um
workshop para o pessoal de Itajubá. E eu fiquei tipo... oi? (risos). Fiquei
feliz e surpreendida. Eu nem sabia o que responder. Acabou que, um dia depois,
no domingo, aconteceu a reunião dos examinadores pela manhã e eu já fiquei na
Savassi com o Rafael (professor) para darmos aula para o pessoal de Itajubá. E
foi uma experiência ótima. Foi o meu primeiro workshop e minha primeira aula
como Vermelha.
E como o pessoal te recebeu nesta reunião da Vermelha? Teve uma
recepção diferente?
Todos me deram os parabéns. E eu
fiz um agradecimento especial ao Raso. Acho que ninguém sabe disso. Ele reuniu os
seis examinados da Vermelha um pouquinho antes do exame e falou pra gente ir lá
e mostrar realmente o que a gente sabia. A atitude dele nos passou uma
segurança muito grande e fez toda a diferença. Um dia depois, eu fiz questão de
conversar com ele e dizer que foi realmente importante as palavras dele antes
do exame.
E agora, o que vem pela frente?
Eu não falo que se encerrou um
ciclo. E sim, que se abriu um novo ciclo. Estar na Vermelha é uma
responsabilidade muito grande, porque você tem sempre que manter um nível bom e
alto de dança, até mesmo para você se sentir satisfeito. Eu sempre vou praticar
e procurar melhorar pontos que eu ainda tenho para melhorar.
Simplesmente, dance. Dance feliz,
divirta-se em todas as aulas, independentemente se for Branca, Azul, Azul
Avançada, Preta ou Preta Avançada. Não pense somente em exame, porque o exame é
uma conseqüência de tudo. Exame é simplesmente para você mudar de roda. Claro
que é muito importante para o desenvolvimento da pessoa. Só que eu acho muito
mais importante você ter a essência da dança do que um colar no pescoço.
Que conselho você daria para as pessoas que foram reprovadas?
Para continuar. Que isso não seja
motivo de desânimo. E sim de uma motivação para você pegar a sua fichinha, ver
o que você precisa melhorar e trabalhar isso, porque passa rápido. Três ou seis
meses não é um tempo muito grande e dá pra trabalhar bem essas coisas.
Gostaria de fazer alguns agradecimentos?
Poxa... Eu quero agradecer
especialmente ao Rafael, que foi o examinador que eu escolhi. Ele foi a
primeira pessoa que eu conheci do Pé descalço. Ele está na minha trajetória de
dança há muito tempo. Um viu o outro evoluir. Ele sempre me ajudou e os treinos
para o exame da Vermelha foram maravilhosos. Eu quero agradecer muito a força e
o incentivo que ele me dava no dia a dia. Quero agradecer a todos os meus
amigos: Isabela, Luiza, Teixeira, Ítalo... Eu não vou ficar falando nomes para
não esquecer de ninguém, porque é muita gente.
Eu também quero agradecer,
especialmente, ao Bruno e à Michelli, que são dois amigos não simplesmente de
Pé Descalço, mas que eu realmente posso contar pra minha vida toda. E agradecer
também aos meus examinadores. O Luiz... nossa, foi um xote maravilhoso. Além de
meu amigo dentro, fora do PD, e pra vida inteira, ele me passou uma coisa muito
boa, uma segurança muito top na hora do exame. Na hora do xote, foi ele que me
deu segurança pra continuar. O Igor, nossa... foi muito legal o rastapé com ele.
Foi um divertido e a gente interagiu muito. O Rafa, que entrou pra fazer o
aéreo comigo e pra dançar o “Forró do Rei”. E o Dumont, que foi meu último
examinador, mas não menos especial. A interação, a energia dele foi muito boa.
Foi ótimo sair com esses examinadores. Eu amei.
Quero agradecer também aos meus
professores Alex e Betinho, que sempre me motivaram e foram os meus professores
desde o início. Sempre que eu cheguei e perguntei alguma coisa, eles estavam
ali pra me ajudar. Quero agradecer também a minha família, que sempre me deu
força, ao meu irmão Juju, que tava ali do meu lado sempre... minha mãe. Beijo
mãe (risos).