segunda-feira, 23 de novembro de 2015

EXPLOSÃO VERMELHA
Teixeira une agilidade, velocidade e evolução para ser aprovado
em sua segunda tentativa


BRUNO TRINDADE

Mesmo com todo o destaque e qualidade de sua dança, ele teve humildade. Humildade para reconhecer que tinha coisas a melhorar e que essas pendências foram as responsáveis pela sua não aprovação no primeiro exame da Vermelha. O que para muitos serviria de chateação, Vinícius Teixeira encarou de outra forma: primeiro como um combustível para evoluir e voltar ainda melhor. E segundo como um presente, por poder sentir toda a emoção do exame mais nobre do Pé Descalço mais uma vez.

Nos seis meses que antecederam o dia derradeiro, Teixeira percorreu o seu caminho com um foco cada vez maior. Treinos específicos, conversas com professores, autocrítica, perseverança e superação fizeram parte de sua rotina.

                                                                                                     
                                                                                                             Fotos: Pé Descalço / Divulgação


Em entrevista exclusiva ao blog do PD Eldorado, o novo Vermelha conta o que ele fez de diferente para obter sucesso, quais foram as suas emoções, a energia que ele recebeu das 521 pessoas presentes no Círculo Militar, quem foi importante em sua caminhada e o que ele espera daqui pra frente.


PD Eldorado: O que você fez de diferente para este segundo exame da Vermelha?
Teixera: A concentração foi maior. Eu sabia o que tinha que melhorar. Por isso, os treinos foram intensos nesses seis meses. A pressão era que eu tinha que fazer melhor do que eu tinha feito antes. E com os treinos, as coisas vieram de forma natural, porque eu me dediquei totalmente para melhorar o que era preciso.

A energia do segundo exame foi melhor do que a do primeiro?
A energia é a mesma em nível de qualidade. Só que é diferente pelas músicas e pela galera que estava lá. E estava muito mais cheio da segunda vez. Então, essa energia foi gigantesca. Foi bom demais. As musicas foram perfeitas. Deram aquela energia a mais. É diferente em cada exame, mas não posso dizer se foi melhor ou pior.

Como você fez para controlar a ansiedade desta segunda vez?
Eu achei que ia passar mal, mas não passei. Fiquei surpreso com isso. Antes, eu não fiquei muito ansioso porque eu sabia o que viria pela frente. No último dia antes do exame, quando fizemos o treino coletivo e que foi um dos treinos mais legais que eu tive pela energia que estava muito bacana, começou a bater a ansiedade. Mas a ansiedade mesmo foi bater no dia, depois que acabou o exame da Preta Avançada. Aí, eu falei: ‘vai começar o exame da Vermelha e comecei a tremer as pernas’. Mas foi mais tranquilo do que da primeira vez.

E o que as pessoas do Pé Descalço, que acompanharam a sua trajetória, tentaram te passar para esse segundo exame?
A gelara me apoiou. Sabiam que eu estava treinando. Eu conversei com muita gente. Eu vi o meu primeiro exame muitas vezes e comecei a reparar o que precisava melhorar. Conversei com os professores Alex, Betinho, Rafael, Luiz, com a galera das outras unidades, e comecei a treinar. Quando eu ia treinar musicalidade, por exemplo, eu ficava mais no básico treinando contato, passos com o tronco, condução corporal. E eu sempre perguntava para as meninas da Preta e da Preta Avançada se o meu braço estava pesado, se eu estava puxando. Elas me ajudaram demais.


Como foram as escolhas do xote e do aéreo desta segunda vez?
Este xote (A morte do vaqueiro, de Luiz Gonzaga) está no meu coração desde sempre. 24 horas depois do primeiro exame, eu falei: ‘se eu passar no próximo pré-exame, o meu xote vai ser esse. É um xote desperta um sentimento em mim que não tem como explicar. Eu até arrepio. Ele “machuca”, entra na alma, é muito bom. O aéreo foi mérito de muita gente. Fizemos confusão (a Juzinha e eu) e começamos a treinar o final do aéreo. Estava saindo perfeito. Depois, fomos treinar o início e não saía de jeito nenhum. A Juzinha se desgastou muito porque ela estava treinando com duas pessoas. A gente viu que não ia dar certo. A Juzinha, então, deu a ideia de outro aéreo, o Flair. Eu me apaixonei na hora, achei doido demais. O César nos ajudou muito, mesmo assim o aéreo não queria sair. Aí, chegou o Walmir, o salvador da pátria. Aquela gambiarra que ele nos passou deu certo. Gambiarra de ouro. Saiu e ficou legal.



É verdade que o aéreo não saiu completo nenhuma vez durante os ensaios e só saiu na hora do exame?
Eu troquei a entrada do aéreo menos de uma semana antes do exame. A galera estava dizendo que estava saindo, mas eu não estava gostando. A partir da terça-feira antes do exame, começou a sair mais fluido. Não estava saindo do jeito que eu queria, fluidão. Mas na hora saiu do jeito que eu estava esperando. Foi doideira.

O que teve de diferente nas surpresas? A galera conseguiu te surpreender?
Eu estava esperando muito mais zoeira. Mas a galera gastou a zoeira toda no primeiro exame. O que eu não estava esperando foram as cartinhas. Chorei o dia inteiro. A primeira cartinha foi da Ju do Yan. Comecei a ler e a lágrima já começou a escorrer. Falei que não ia chorar. Passou alguns minutos e eu estava chorando igual uma criança. A segunda foi da Luiza. Chorei pra caramba. Cada cartinha que chegava, era um choro. Eu juro que não esperava. A cartinha do Henrique foi doida demais. Me arrepiei lendo,  foi um reconhecimento que eu não esperava. E por último, foi a carta da “mamãe Jubis”. Quando estava lá no meio, abri a carta e vi escrito “Oi Fiotão”, a torneira abriu. Chorei igual um condenado, mas valeu. Foi uma das melhores surpresas que eu já tive na minha vida.



Como fez para equilibrar as suas emoções? Ao mesmo tempo em que você estava extremamente emocionado, tinha que se recompor rápido para dar o seu melhor na dança?
Não tem como. Você vai na fé. Mesmo com esse chororô todo, a energia emocional estava lá em cima e acabou ajudando. Eu cheguei lá na hora bem mais tranquilo. Na hora do xote do Ítalo, eu parei, sentei no chão, refleti, dei uma relaxada pra canalizar todo aquele emocional e entrar regaçando no exame.

O dia do exame foi do jeito que você imaginava?
Cada exame tem um jeito de nos marcar de uma maneira especial. Eu gosto dos dois exames (que fiz pra Vermelha) igualzinho. Só que o segundo exame saiu mais perfeito do que eu estava esperando. O que mais eu estava esperando era o xote. Aquele xote (A morte do vaqueiro – Luiz Gonzaga) é perfeito. Caiu a energia que eu queria com a examinadora que eu queria: a Diandra. Não desmerecendo as outras examinadoras. Todas dançam igual. Mas o meu xote encaixa muito com o da Diandra. Do mesmo jeito que eu queria a Andrezza na minha rápida. Queria que a Babi caísse também. Eu também queria muito que a Gisa tivesse caído no rastapé. Gostei muito de ter sido com a Milena, mas eu queria que a Gisa tivesse saído em qualquer parte do meu exame. Na verdade, eu queria todo mundo no meu exame. Cada examinadora tem uma característica diferente que eu gosto. Mas a Gisa tem um significado especial, lá no fundo do coração. Se não fosse por ela, eu não estaria aqui hoje. Foi melhor do que eu estava esperando. Xote perfeito, rastapé perfeito, baião perfeito. Foi tudo doido demais.

O que a Gisa fez?
Quando eu passei no pré-exame pela primeira vez e me perguntei: e agora? O que eu faço? Exame da Vermelha? Como eu vou fazer esse exame? Ela pegou na minha mão e disse: ‘Vamos. Eu estou com você’. Ela me carregou nas costas. A gente dividiu uma experiência muito bacana. Os dois na mesma sintonia, na mesma energia, com a mesma torcida. Ansiosos, nervosos. Não teria outra melhor escolha no primeiro exame que não fosse a Gisa.




Você se sente um privilegiado por ter feito esse exame da Vermelha duas vezes?
Eu me sinto, com certeza. A galera falava: ‘Nossa, você tomou pau na Vermelha, você devia ter passado’. E eu sempre falei que ser reprovado no exame da Vermelha foi doido demais porque eu ia fazer outro. O exame é doido demais. Eu fazia até três. Mas aí ta bom né?! Depois do terceiro eu podia parar e passar (risos). Mas passar de segunda foi muito bom. Eu queria ter feito mais de um exame pra Vermelha por causa da energia, que não tem como explicar. Só quem está lá no meio é que sabe.

E depois que acabou o exame, você achava que seria aprovado?
Eu estava do lado do Yan e da Ju. Aí, chegam os examinadores. Todos com aquela cara de desolação, olhando pra baixo, tristes, cabisbaixos, chorando. Pensei que não tinha passado ninguém. A Juzinha estava com uma cara de tristeza, a Gisa chorando, a Babi séria pra caramba e olhando pra baixo... Aí começaram a dizer os resultados: Yan, Buto e depois, Teixeira. As meninas olharam pra mim e começaram a sorrir. Na hora que eles falaram que tinham passado quatro dos seis examinados, eu nem me dei conta que, obrigatoriamente, dois do Eldorado tinham sido aprovados. Só depois de ouvir o meu nome é que a ficha caiu.

O que você sentiu quando ouviu que você estava entre os aprovados?
Primeiro, foi aquele peso saindo das costas. Era pressão e nervosismo até o resultado. Foi mais um degrau porque a caminhada não termina depois que você chega lá. Eu já saí de lá querendo treinar. Eu tenho coisas pra melhorar ainda: a minha musicalidade, a minha expressão corporal. Eu não quero me estagnar. Eu estava treinando no que eu era bom. Agora que eu não tenho um “objetivo” (um próximo exame), eu vou complementar a minha dança e, se tudo der certo, virar examinador e professor. Eu tenho que continuar evoluindo. Não adianta ficar estagnado e querendo que as coisas venham até você.



É importante querer sair dessa zona de conforto?
Com certeza! Tem uma hora que você olha para as suas qualidades e vê que você é o melhor. Mas tem pessoas que não são tão boas quanto você nessas qualidades, porém tem uma dança muito mais completa. E isso é uma coisa que eu acho mais válido. Eu tenho o meu estilo, que é velocidade, a agilidade. Mas eu acho muito importante explorar a música, conseguir transmitir, através do meu corpo e do corpo da dama, o que a música está querendo passar. Não adianta só chegar lá, quebrar o pau, dançar rápido pra caramba e não sentir a música. Isso é executar passos, não é dançar. Eu estou querendo muito complementar minha dança, focando no Pé de Serra, na musicalidade. Quero melhorar ainda mais pra minha dança ficar completa e eu ficar mais satisfeito comigo mesmo.

Qual foi o seu primeiro ato como Vermelha?
Tomar muita cerveja pra comemorar. O meu objetivo após ter passado pra Vermelha é complementar a minha dança e virar examinador e professor. Então, desde que passei, mesmo não tendo que fazer exame de novo, eu ainda quero ser visto como uma pessoa que continua evoluindo. É a galera olhar pra mim e dizer: ‘Ou, ele não parou, ele está evoluindo’. É ser reconhecido sabe, pelo seu esforço.

Já participou de alguma reunião, de algum evento como Vermelha?
Ainda não. Uma coisa que eu queria muito ter ido foi um treino da Vermelha que ia rolar. Acabou que não deu pra ir. Estou doido pra eles marcaram outro. Quando chegar lá, vou pensar: ‘Nossa, o que eu estou fazendo aqui?’. A ficha não vai cair direito não.



Agora que foi aprovado, dá pra dizer melhor: O que a Vermelha significa para você?
Antes eu tinha falado que era superação. Agora que eu cheguei, eu vejo como uma evolução. É continuar progredindo. Eu já tinha esse pensamento de que, depois que eu chegasse à Vermelha, eu não ia parar. Mas quando você chega, a primeira coisa que você pensa é que você não vai mais fazer exame. Porém o Pé Descalço não é feito de exame. O Pé Descalço é feito do amor pela dança. Quando eu passei pra Vermelha, eu passei a prezar mais ainda o meu gosto e o meu amor pela dança. Mesmo que tenha acabado os exames, você tem que dançar pelo prazer que você tem de dançar, pelo amor que você tem pela dança. Então, você não pode parar. Senão, você estará simplesmente desistindo de uma coisa que você gosta de fazer. O meu amor pela dança não acabou e nem continua a mesma coisa. Ele continua aumentando cada dia mais.

Se por um lado, você não fará mais exames, você poderá ser parte do exame de outras pessoas que podem te escolher pra dançar, pra fazer aéreo?
Eu quero muito isso. Estou bastante animado. Acho muito bacana pelas duas experiências que eu tive. As meninas absorveram a experiência como se fosse o exame delas. A energia foi muito boa, elas estavam lá de corpo, alma e empenhadas em nos ajudar. Eu posso falar isso por mim e pelo Buto desse último exame, porque a Juzinha estava lá todos os dias machucada, cansada, dando aula particular, mas com muita energia pra treinar com a gente. É uma coisa muito bacana e que eu quero fazer pelos outros. Poder pegar na mão, caminhar junto e ajudar a pessoa a chegar lá.




Quando foi a sua reação quando você ouviu que a Ana Flávia também tinha sido aprovada?
Foi bacana demais. Eu fiquei muito feliz pela Ana porque foi um esforço que muita gente não viu dela. Ela treinou demais, se empenhou muito e eu achei muito bacana o fato dela ter passado de primeira. Eu vou continuar falando: passar de segunda é melhor do que passar de primeira. Eu fiz dois exames. Mas passar de primeira também é bom demais porque você tem o esforço reconhecido. Eu fiquei muito feliz por ela.

O que você diria para os colegas do Eldorado, Ítalo e Camila, que fizeram o exame da Vermelha e não passaram?
Vocês vão fazer de novo. Vai ser bom demais e do mesmo jeito. Aquela energia incrível, que só quem fez sabe, vocês terão isso de novo. Então, continuem treinando. Se você já chegou lá uma vez, o que te impede de evoluir mais um pouco e fazer o exame de novo? Só pelo prazer de estar lá no meio, já é motivação mais do que suficiente para continuar evoluindo.

E o que dizer para as pessoas que tem mais dificuldade em chegar ao exame da Vermelha?
Acredito que cada um tem o seu tempo, e capacidade ou facilidade pra poder aprender as coisas. Na minha concepção, seis meses é um tempo bom pra você conseguir evoluir o que faltou pra você chegar lá. É foco. Pensa que o seu amor pela dança será revertido em um mérito. Pensa que você quer sentir aquela energia pela primeira vez ou senti-la de novo. Você quer estar lá no meio, quer estar lá dançando, ouvindo a galera gritando o seu nome. Isso não tem preço. Então, é foco. Nem todo mundo pode se dedicar sete dias por semana ao Pé Descalço. Todo mundo sabe disso. Mas quando você estiver no Pé Descalço, dedique 110% que vai valer muito a pena.