EXPLOSÃO VERMELHA
Teixeira une agilidade, velocidade e evolução para ser aprovado
em sua segunda tentativa
É verdade que o aéreo não saiu completo nenhuma vez durante os ensaios e só saiu na hora do exame?
Teixeira une agilidade, velocidade e evolução para ser aprovado
em sua segunda tentativa
BRUNO TRINDADE
Mesmo com todo o destaque e
qualidade de sua dança, ele teve humildade. Humildade para reconhecer que tinha
coisas a melhorar e que essas pendências foram as responsáveis pela sua não
aprovação no primeiro exame da Vermelha. O que para muitos serviria de chateação,
Vinícius Teixeira encarou de outra forma: primeiro como um combustível para
evoluir e voltar ainda melhor. E segundo como um presente, por poder sentir
toda a emoção do exame mais nobre do Pé Descalço mais uma vez.
Nos seis meses que antecederam o dia
derradeiro, Teixeira percorreu o seu caminho com um foco cada vez maior.
Treinos específicos, conversas com professores, autocrítica, perseverança e
superação fizeram parte de sua rotina.
Fotos: Pé Descalço / Divulgação
Em entrevista exclusiva ao blog
do PD Eldorado, o novo Vermelha conta o que ele fez de diferente para obter
sucesso, quais foram as suas emoções, a energia que ele recebeu das 521 pessoas
presentes no Círculo Militar, quem foi importante em sua caminhada e o que ele
espera daqui pra frente.
PD Eldorado: O que você fez de diferente para este segundo exame da Vermelha?
Teixera: A concentração foi maior. Eu
sabia o que tinha que melhorar. Por isso, os treinos foram intensos nesses seis
meses. A pressão era que eu tinha que fazer melhor do que eu tinha feito antes.
E com os treinos, as coisas vieram de forma natural, porque eu me dediquei
totalmente para melhorar o que era preciso.
A energia do segundo exame foi melhor do que a do primeiro?
A energia é a mesma em nível de
qualidade. Só que é diferente pelas músicas e pela galera que estava lá. E
estava muito mais cheio da segunda vez. Então, essa energia foi gigantesca. Foi
bom demais. As musicas foram perfeitas. Deram aquela energia a mais. É diferente
em cada exame, mas não posso dizer se foi melhor ou pior.
Como você fez para controlar a ansiedade desta segunda vez?
Eu achei que ia passar mal, mas
não passei. Fiquei surpreso com isso. Antes, eu não fiquei muito ansioso porque
eu sabia o que viria pela frente. No último dia antes do exame, quando fizemos
o treino coletivo e que foi um dos treinos mais legais que eu tive pela energia
que estava muito bacana, começou a bater a ansiedade. Mas a ansiedade mesmo foi
bater no dia, depois que acabou o exame da Preta Avançada. Aí, eu falei: ‘vai
começar o exame da Vermelha e comecei a tremer as pernas’. Mas foi mais
tranquilo do que da primeira vez.
E o que as pessoas do Pé Descalço, que acompanharam a sua trajetória,
tentaram te passar para esse segundo exame?
A gelara me apoiou. Sabiam que eu
estava treinando. Eu conversei com muita gente. Eu vi o meu primeiro exame
muitas vezes e comecei a reparar o que precisava melhorar. Conversei com os
professores Alex, Betinho, Rafael, Luiz, com a galera das outras unidades, e
comecei a treinar. Quando eu ia treinar musicalidade, por exemplo, eu ficava mais
no básico treinando contato, passos com o tronco, condução corporal. E eu
sempre perguntava para as meninas da Preta e da Preta Avançada se o meu braço
estava pesado, se eu estava puxando. Elas me ajudaram demais.
Como foram as escolhas do xote e do aéreo desta segunda vez?
Este xote (A morte do vaqueiro,
de Luiz Gonzaga) está no meu coração desde sempre. 24 horas depois do primeiro
exame, eu falei: ‘se eu passar no próximo pré-exame, o meu xote vai ser esse. É
um xote desperta um sentimento em mim que não tem como explicar. Eu até
arrepio. Ele “machuca”, entra na alma, é muito bom. O aéreo foi mérito de muita
gente. Fizemos confusão (a Juzinha e eu) e começamos a treinar o final do aéreo.
Estava saindo perfeito. Depois, fomos treinar o início e não saía de jeito
nenhum. A Juzinha se desgastou muito porque ela estava treinando com duas
pessoas. A gente viu que não ia dar certo. A Juzinha, então, deu a ideia de
outro aéreo, o Flair. Eu me apaixonei na hora, achei doido demais. O César nos ajudou
muito, mesmo assim o aéreo não queria sair. Aí, chegou o Walmir, o salvador da
pátria. Aquela gambiarra que ele nos passou deu certo. Gambiarra de ouro. Saiu
e ficou legal.
É verdade que o aéreo não saiu completo nenhuma vez durante os ensaios e só saiu na hora do exame?
Eu troquei a entrada do aéreo
menos de uma semana antes do exame. A galera estava dizendo que estava saindo,
mas eu não estava gostando. A partir da terça-feira antes do exame, começou a
sair mais fluido. Não estava saindo do jeito que eu queria, fluidão. Mas na
hora saiu do jeito que eu estava esperando. Foi doideira.
O que teve de diferente nas surpresas? A galera conseguiu te
surpreender?
Eu estava esperando muito mais zoeira.
Mas a galera gastou a zoeira toda no primeiro exame. O que eu não estava
esperando foram as cartinhas. Chorei o dia inteiro. A primeira cartinha foi da
Ju do Yan. Comecei a ler e a lágrima já começou a escorrer. Falei que não ia
chorar. Passou alguns minutos e eu estava chorando igual uma criança. A segunda
foi da Luiza. Chorei pra caramba. Cada cartinha que chegava, era um choro. Eu
juro que não esperava. A cartinha do Henrique foi doida demais. Me arrepiei
lendo, foi um reconhecimento que eu não
esperava. E por último, foi a carta da “mamãe Jubis”. Quando estava lá no meio,
abri a carta e vi escrito “Oi Fiotão”, a torneira abriu. Chorei igual um
condenado, mas valeu. Foi uma das melhores surpresas que eu já tive na minha
vida.
Como fez para equilibrar as suas emoções? Ao mesmo tempo em que você estava extremamente emocionado, tinha que se recompor rápido para dar o seu melhor na dança?
Como fez para equilibrar as suas emoções? Ao mesmo tempo em que você estava extremamente emocionado, tinha que se recompor rápido para dar o seu melhor na dança?
Não tem como. Você vai na fé. Mesmo
com esse chororô todo, a energia emocional estava lá em cima e acabou ajudando.
Eu cheguei lá na hora bem mais tranquilo. Na hora do xote do Ítalo, eu parei,
sentei no chão, refleti, dei uma relaxada pra canalizar todo aquele emocional e
entrar regaçando no exame.
O dia do exame foi do jeito que você imaginava?
Cada exame tem um jeito de nos
marcar de uma maneira especial. Eu gosto dos dois exames (que fiz pra Vermelha)
igualzinho. Só que o segundo exame saiu mais perfeito do que eu estava
esperando. O que mais eu estava esperando era o xote. Aquele xote (A morte do
vaqueiro – Luiz Gonzaga) é perfeito. Caiu a energia que eu queria com a
examinadora que eu queria: a Diandra. Não desmerecendo as outras examinadoras.
Todas dançam igual. Mas o meu xote encaixa muito com o da Diandra. Do mesmo
jeito que eu queria a Andrezza na minha rápida. Queria que a Babi caísse também.
Eu também queria muito que a Gisa tivesse caído no rastapé. Gostei muito de ter
sido com a Milena, mas eu queria que a Gisa tivesse saído em qualquer parte do
meu exame. Na verdade, eu queria todo mundo no meu exame. Cada examinadora tem
uma característica diferente que eu gosto. Mas a Gisa tem um significado
especial, lá no fundo do coração. Se não fosse por ela, eu não estaria aqui
hoje. Foi melhor do que eu estava esperando. Xote perfeito, rastapé perfeito,
baião perfeito. Foi tudo doido demais.
O que a Gisa fez?
Quando eu passei no pré-exame
pela primeira vez e me perguntei: e agora? O que eu faço? Exame da Vermelha? Como
eu vou fazer esse exame? Ela pegou na minha mão e disse: ‘Vamos. Eu estou com
você’. Ela me carregou nas costas. A gente dividiu uma experiência muito
bacana. Os dois na mesma sintonia, na mesma energia, com a mesma torcida.
Ansiosos, nervosos. Não teria outra melhor escolha no primeiro exame que não
fosse a Gisa.
Você se sente um privilegiado por ter feito esse exame da Vermelha duas
vezes?
Eu me sinto, com certeza. A galera
falava: ‘Nossa, você tomou pau na Vermelha, você devia ter passado’. E eu
sempre falei que ser reprovado no exame da Vermelha foi doido demais porque eu ia
fazer outro. O exame é doido demais. Eu fazia até três. Mas aí ta bom né?!
Depois do terceiro eu podia parar e passar (risos). Mas passar de segunda foi
muito bom. Eu queria ter feito mais de um exame pra Vermelha por causa da
energia, que não tem como explicar. Só quem está lá no meio é que sabe.
E depois que acabou o exame, você achava que seria aprovado?
Eu estava do lado do Yan e da Ju.
Aí, chegam os examinadores. Todos com aquela cara de desolação, olhando pra
baixo, tristes, cabisbaixos, chorando. Pensei que não tinha passado ninguém. A Juzinha
estava com uma cara de tristeza, a Gisa chorando, a Babi séria pra caramba e olhando
pra baixo... Aí começaram a dizer os resultados: Yan, Buto e depois, Teixeira. As
meninas olharam pra mim e começaram a sorrir. Na hora que eles falaram que
tinham passado quatro dos seis examinados, eu nem me dei conta que, obrigatoriamente,
dois do Eldorado tinham sido aprovados. Só depois de ouvir o meu nome é que a
ficha caiu.
O que você sentiu quando ouviu que você estava entre os aprovados?
Primeiro, foi aquele peso saindo
das costas. Era pressão e nervosismo até o resultado. Foi mais um degrau porque
a caminhada não termina depois que você chega lá. Eu já saí de lá querendo
treinar. Eu tenho coisas pra melhorar ainda: a minha musicalidade, a minha
expressão corporal. Eu não quero me estagnar. Eu estava treinando no que eu era
bom. Agora que eu não tenho um “objetivo” (um próximo exame), eu vou
complementar a minha dança e, se tudo der certo, virar examinador e professor.
Eu tenho que continuar evoluindo. Não adianta ficar estagnado e querendo que as
coisas venham até você.
É importante querer sair dessa zona de conforto?
Com certeza! Tem uma hora que
você olha para as suas qualidades e vê que você é o melhor. Mas tem pessoas que
não são tão boas quanto você nessas qualidades, porém tem uma dança muito mais
completa. E isso é uma coisa que eu acho mais válido. Eu tenho o meu estilo,
que é velocidade, a agilidade. Mas eu acho muito importante explorar a música,
conseguir transmitir, através do meu corpo e do corpo da dama, o que a música
está querendo passar. Não adianta só chegar lá, quebrar o pau, dançar rápido
pra caramba e não sentir a música. Isso é executar passos, não é dançar. Eu
estou querendo muito complementar minha dança, focando no Pé de Serra, na
musicalidade. Quero melhorar ainda mais pra minha dança ficar completa e eu
ficar mais satisfeito comigo mesmo.
Qual foi o seu primeiro ato como Vermelha?
Tomar muita cerveja pra
comemorar. O meu objetivo após ter passado pra Vermelha é complementar a minha
dança e virar examinador e professor. Então, desde que passei, mesmo não tendo
que fazer exame de novo, eu ainda quero ser visto como uma pessoa que continua
evoluindo. É a galera olhar pra mim e dizer: ‘Ou, ele não parou, ele está
evoluindo’. É ser reconhecido sabe, pelo seu esforço.
Já participou de alguma reunião, de algum evento como Vermelha?
Ainda não. Uma coisa que eu
queria muito ter ido foi um treino da Vermelha que ia rolar. Acabou que não deu
pra ir. Estou doido pra eles marcaram outro. Quando chegar lá, vou pensar:
‘Nossa, o que eu estou fazendo aqui?’. A ficha não vai cair direito não.
Agora que foi aprovado, dá pra dizer melhor: O que a Vermelha significa
para você?
Antes eu tinha falado que era
superação. Agora que eu cheguei, eu vejo como uma evolução. É continuar
progredindo. Eu já tinha esse pensamento de que, depois que eu chegasse à
Vermelha, eu não ia parar. Mas quando você chega, a primeira coisa que você
pensa é que você não vai mais fazer exame. Porém o Pé Descalço não é feito de
exame. O Pé Descalço é feito do amor pela dança. Quando eu passei pra Vermelha,
eu passei a prezar mais ainda o meu gosto e o meu amor pela dança. Mesmo que
tenha acabado os exames, você tem que dançar pelo prazer que você tem de
dançar, pelo amor que você tem pela dança. Então, você não pode parar. Senão, você
estará simplesmente desistindo de uma coisa que você gosta de fazer. O meu amor
pela dança não acabou e nem continua a mesma coisa. Ele continua aumentando
cada dia mais.
Se por um lado, você não fará mais exames, você poderá ser parte do
exame de outras pessoas que podem te escolher pra dançar, pra fazer aéreo?
Eu quero muito isso. Estou
bastante animado. Acho muito bacana pelas duas experiências que eu tive. As
meninas absorveram a experiência como se fosse o exame delas. A energia foi
muito boa, elas estavam lá de corpo, alma e empenhadas em nos ajudar. Eu posso
falar isso por mim e pelo Buto desse último exame, porque a Juzinha estava lá
todos os dias machucada, cansada, dando aula particular, mas com muita energia
pra treinar com a gente. É uma coisa muito bacana e que eu quero fazer pelos
outros. Poder pegar na mão, caminhar junto e ajudar a pessoa a chegar lá.
Quando foi a sua reação quando você ouviu que a Ana Flávia também tinha
sido aprovada?
Foi bacana demais. Eu fiquei
muito feliz pela Ana porque foi um esforço que muita gente não viu dela. Ela
treinou demais, se empenhou muito e eu achei muito bacana o fato dela ter
passado de primeira. Eu vou continuar falando: passar de segunda é melhor do
que passar de primeira. Eu fiz dois exames. Mas passar de primeira também é bom
demais porque você tem o esforço reconhecido. Eu fiquei muito feliz por ela.
O que você diria para os colegas do Eldorado, Ítalo e Camila, que
fizeram o exame da Vermelha e não passaram?
Vocês vão fazer de novo. Vai ser
bom demais e do mesmo jeito. Aquela energia incrível, que só quem fez sabe,
vocês terão isso de novo. Então, continuem treinando. Se você já chegou lá uma
vez, o que te impede de evoluir mais um pouco e fazer o exame de novo? Só pelo
prazer de estar lá no meio, já é motivação mais do que suficiente para
continuar evoluindo.
E o que dizer para as pessoas que tem mais dificuldade em chegar ao
exame da Vermelha?
Acredito que cada um tem o seu
tempo, e capacidade ou facilidade pra poder aprender as coisas. Na minha
concepção, seis meses é um tempo bom pra você conseguir evoluir o que faltou
pra você chegar lá. É foco. Pensa que o seu amor pela dança será revertido em
um mérito. Pensa que você quer sentir aquela energia pela primeira vez ou
senti-la de novo. Você quer estar lá no meio, quer estar lá dançando, ouvindo a
galera gritando o seu nome. Isso não tem preço. Então, é foco. Nem todo mundo
pode se dedicar sete dias por semana ao Pé Descalço. Todo mundo sabe disso. Mas
quando você estiver no Pé Descalço, dedique 110% que vai valer muito a pena.