quarta-feira, 21 de setembro de 2016

SUPERAÇÃO VERMELHA
Luísa Martins reúne o conhecimento necessário, em três anos de Pé Descalço, para alçar o nível mais nobre da Escola

Fotos: Arquivo pessoal



 BRUNO TRINDADE

 Já são três anos desde que Luísa Martins, candidata ao exame da Vermelha pela primeira vez, iniciou a sua caminhada no Pé Descalço. E ela não aprendeu apenas a dançar forró. Ela fez grandes amigos, venceu medos, quebrou barreiras, superou um drama, virou professora e examinadora, evoluiu como dançarina e como pessoa, além de seguir sempre em busca de novos conhecimentos e objetivos. Agora, ela se encontra diante de seu maior desafio no PD: encarar o exame da Vermelha. Trata-se de um espetáculo, um verdadeiro show, onde ela terá que encarar o crivo analítico de cada um dos examinadores, a pressão natural, o nervosismo, a empolgação da torcida, mais de uma centena de pessoas a sua volta e a ansiedade para alcançar o sonho de virar Vermelha. 

Mas a história da Luísa, tanto dentro quanto fora do Pé Descalço, mostra que ela sabe muito bem lidar com desafios e superar obstáculos. E agora, ele está focada nos treinos e no que será preciso fazer para poder triunfar mais uma vez.

Em entrevista exclusiva ao blog do PD Eldorado, Luísa fala de sua história no PD, das dificuldades, do aprendizado, da emoção que a dança lhe proporciona e a sua expectativa para o grande exame da Vermelha.


Quando você entrou no PD e conheceu o sistema de níveis de aprendizado, imaginava que faria o exame da Vermelha?
Nunca. Eu lembro que vim pela primeira vez no Pé Deslcaço com o Douglas (Chimbinha). A gente via o Ítalo dançando e eu pensava: Eu nunca vou conseguir dançar com o Ítalo. Eu morria de medo do Ítalo me chamar para dançar porque ele dançava muito. Eu falava: meu Deus, eu não consigo fazer isso. Mas o Douglas acabou me ‘obrigando’ a ficar. Aí, o Betinho abriu uma turma de Branca no horário da Azul. Essa turma durou uns dois meses e depois acabou, porque eles começaram a usar o espaço lá de baixo. Com três semanas, fiz o exame da Azul e acho que só passei por causa dessa turma do Betinho, que foi um intensivão. Isso é o bom do Pé Descalço: ele te dá a chance de absorver as coisas no seu tempo. Ele vai devagarzinho, tudo calminho... E acho que foi isso que me deu confiança pra ficar, por saber que eu nunca seria sobrecarregada. Mas eu não achava que eu ia chegar aqui. Com certeza não.

O que foi mais difícil na sua caminhada?
Até a Preta, eu não dançava música rápida. Eu morria de medo. E quando eu passei pra Preta, não tinha mais a opção de ter medo de música rápida porque o Alex, quando senta nessa cadeirinha aqui, só vê as músicas rápidas do computador (risos). Acho que foi a minha maior dificuldade Eu tinha medo de machucar o cara, segurava muito a mão dele ou a mão fugia toda hora, estava saindo sempre para longe do cavalheiro, ou trombando, ou batendo o cotovelo. Era um desastre total. E eu tive também muito problema de equilíbrio. Muito. Eu me pendurava no básico, porque não conseguia ficar em pé.

E como resolveu esses problemas?
Na marra (risos). Era o Luiz (Henrique) repetindo, repetindo. Ele me falava: ‘Lu, você está caindo’. Eu falava que não, que era impossível. Aí, ele fazia o passinho e ele me soltava. Eu caía igual uma jaca, batendo o calcanhar no chão. Acho que marra é a palavra errada. Eu superei esses problemas com o treino. Insistindo. Assim que resolvemos.
 
É importante ter humildade de reconhecer os erros para evoluir?
Sim. Quando eu falava pra ele que não estava caindo, era porque eu não sentia. Aí, ele fazia uma sacada e me soltava. Onde eu parava, eu ficava. Era assim. Acho que é muito importante a gente conseguir encontrar os erros da gente e quando alguém achar, a gente pensar sobre aquilo. Porque não é só uma alta avaliação. Você não dança sozinho. E também não é só uma avaliação do outro, porque o outro também não está dançando sozinho. É muito importante ter essa humildade até pra ajudar o outro a crescer. E a gente crescer como pessoa também. Porque aceitar crítica não é fácil pra todo mundo.

E qual era a sua expectativa antes do Pré-Exame? Achava-se pronta para ser aprovada?
É o meu segundo Pré-Exame. E no primeiro, eu fiquei extremamente nervosa. Todos os erros que eu já tinha na dança foram potencializados pelo meu psicológico. Neste Pré-exame agora, acho fui tranquila. Ah... e teve o Raso também. Ele levou todo mundo pra uma sala e deu um discurso sensacional de que se a gente ficasse nervoso, a gente estaria se sabotando. Então, pensando no “eu” que treinou, que se arriscou, que dançou músicas muito rápidas com o Teixeira (que sai voando se puder), com o Betinho, com o Alex, com todo mundo. Eu achei muito injusto “cagar” tudo por insegurança, por nervosismo, por sentir uma pressão. Então, eu fui tão tranquila e acho que eu dancei o que eu realmente danço. E de alguma forma, eles acharam que isso foi o suficiente e eu gosto muito disso (risos). E fico muito grata (risos). Eu me diverti muito no Pré-Exame, muito mesmo. 


De repente, foram seis aprovados. E um desses nomes era de Luisa Martins. E aí, o que você sentiu na hora do resultado?
Acho que a ficha não caiu na hora. Acho que ainda está caindo (risos). Às vezes, eu tenho uns ataques de pânico (risos). Coisa básica. Mas é sério. O Ítalo, a Ana, o Teixeira... todo mundo voltou (da reunião dos Vermelhas) sem olhar pra mim. Na hora que falaram o meu nome, todos eles olharam pra mim, tipo: ‘Eu queria te contar, mas eu não podia’. Acho que esse olhar foi que me fez pensar assim: nossa, eu passei, como assim?! Se pudesse definir a sensação, foi essa: de alívio, por terem finalmente olhado pra mim, e de felicidade. De muita felicidade, porque eu fiquei satisfeita e eles também. E isso é muito gratificante.

Como está a preparação para o exame da Vermelha?
Eu acho que fiquei meio nervosa assim que eu percebi que eu realmente ia fazer o exame, sabe. Acho que cai a ficha que você passou no Pré-Exame, mas não cai a ficha que depois de um mês você vai estar lá no meio da quadra. Aí, quando cai a segunda ficha, você pega os vídeos pra assistir (dos exames anteriores da Vermelha) e fala: gente, serei eu no meio da quadra. Ai, bate aquela coisinha: tem muita coisa errada na minha dança. Tenho que melhorar tudo (risos). Acho que escolher o Rafa foi uma coisa muito importante porque ele conversa comigo com uma linguagem que eu entendo e que me acalma. A preparação vai muito bem. Estar confortável com a pessoa que está me auxiliando, faz muito bem para o meu psicológico. Eu já fico mais tranquila só de saber que quem estará lá na quadra vai ser ele. E que ele vai falar assim: ‘filha, não caga tudo, tá bom?’ (risos). Então, tá bom.

Você acha que o psicológico pode te atrapalhar?
Olha, nós vamos fazer de tudo para que não atrapalhe. Mas pode. Todo mundo tem dia bom e dia ruim pra dançar. Todo mundo tem dia bom e ruim na própria vida. E consigo mesmo. Tem dia que você não está legal com você. Tem dia que você não está legal com o outro. Tem dia que você não está legal com o mundo. Eu espero, de verdade, que eu consiga ficar calma durante o dia todo. Inclusive, vou estar ocupada o dia todo (examinando) e acho que isso pode fazer muito bem pra minha cabeça. E é aquilo que o Raso falou: é não desperdiçar todo o tempo de treino, a dedicação das pessoas. Mas acho que sim, que o psicológico pode me afetar. Posso ficar muito feliz, posso ficar muito triste. Mas no psicológico que eu estiver, eu vou tentar dar o melhor que eu conseguir dar na hora.

Mas o psicológico também pode te ajudar?
Pode me ajudar. Você é doido? Ver os meus alunos tudo em volta da quadra gritando o meu nome. Acabou... morri! (risos)

Dá pra imaginar qual vai ser a sensação lá na hora, quando anunciarem o seu nome para o exame da Vermelha?
Vai ficar todo mundo caladinho, todo mundo quietinho. Não vamos assustar a amiguinha (risos). Eu acho que ser colocada na frente do holofote, é uma sensação que você até pode imaginar. Ou você vai se sentir incrível, ou incrivelmente ruim. Acho que vai ser uma sensação muito intensa. E uma sensação muito boa, de ver a galera torcendo. Ou não torcendo também, sem pressão gente (risos). Acho que vai ser muito bom porque é o sonho né?! Meio que todo mundo que está aqui tentando, que se viciou nessa classificação do Pé Descalço, que quer realmente, que tem aquela sede... Acho que é uma sensação muito boa sim. Intensa. Perigosa. Mas vai ser bom. (risos)

Você teve um grave problema de saúde. Você achou que podia não poder dançar mais?
Quando eu tive o meu problema de sáude, os médicos disseram que dificilmente eu teria fôlego pra aguentar qualquer atividade física. Fiquei de agosto a setembro sem dançar. Foram sensações muito intensas. De estar aqui e não poder dançar, de começar a dançar uma música mais rápida e ter que parar de dançar porque eu não conseguia respirar. Foi uma coisa que me assustou muito. Mas por ter passado por isso e logo depois ter passado no exame, acho que me deu uma pontinha de esperança. Se eu treinasse aos pouquinhos, respeitasse o meu corpo, eu conseguiria chegar. E a gente está tentando chegar lá ainda. Tá chegando (risos). Mas, sim. Eu realmente achei que eu não poderia chegar até aqui. Por pouco tempo. Mas achei.


Que tipo de xote você está pensando em escolher?
É um xote bem marcado. Acho que a energia que o xote vai passar, não só pra mim, mas para quadra, vai ser muito boa. Acho que vai ser um ótimo começo para o exame. Eu espero simplesmente conseguir brincar muito no xote, porque ele deixa muito aberto pra isso. Vai ser muito legal. Eu fico muito doida pra contar (risos).

O que você pensa do aéreo? Será um aéreo mais simples, um aéreo mais impactante?
Eu tenho muito medo de altura. Então, a gente vai tentar achar um aéreo onde eu sinta o contato do meu par o tempo todo, porque aí eu vou ter confiança de ajudar. O aéreo não é só feito por uma pessoa. Se eu não puder ajudar, ele vai ter que carregar aqui esses 60 quilos de muita gostosura (risos), sozinho. Então, eu preciso achar um aéreo que eu esteja confortável e confiante, porque não é para ser uma coisa que me assuste no meio da quadra. É pra ser uma coisa que levante a minha energia, a energia da quadra, do meu examinador, de quem estiver assistindo, de quem for assistir ao vídeo depois - eu mesma vou assistir umas 70 vezes. Então, eu penso em um aéreo que seja impactante, porém que não seja muito difícil para que não me assuste, para não ser uma coisa que possa acabar com o meu psicológico. Nem com o meu corpinho (risos). Espero, de preferência, ficar inteira após o exame (risos).

O que é necessário fazer para conseguir a aprovação?
Para a Vermelha, talvez eles queiram ver que eu já superei a maioria dos desafios comuns, para eu ir atrás agora de desafios maiores, tipo criar coisas novas, ou ser uma professora melhor, ou ser uma boa examinadora. É você ir quebrando as barreiras do seu corpo, da sua mente, tentar se arriscar, não ter vergonha de pedir ajuda. Eu infernizava a vida do Ítalo e ele falava que não aguentava mais ouvir a minha voz (risos). Os examinadores têm uma maturidade maior que a nossa. Então, talvez eles queiram ver que a gente está chegando perto dessa maturidade. Que a gente está alcançando esse padrão máximo do nosso próprio corpo. Talvez seja chegar ali na expectativa deles e dar um passinho a mais.


Todas as mulheres que passaram, foram aprovadas pela primeira vez. Isso diminui a responsabilidade? Aumenta?

Acho que a pressão existe contra você mesmo. É o meu primeiro exame. Então, eu preciso fazer com que meu primeiro exame seja muito bom. Se eu tiver que fazer outro exame, que ele seja ainda melhor do que o primeiro, porque aquele limite ali eu já quebrei. E o meu próximo limite vai ser maior. Por ser a primeira vez, aumenta o nervosismo de todo mundo, das meninas todas. Tenho certeza, todas estão assim: gente, socorro! Como assim? Eu passei no Pré-Exame (risos). Acho que passar pro Pré-Exame aumenta a sua responsabilidade na dança, não sobre o exame, porque te deram um voto de confiança, e isso traz a responsabilidade. A confiança de alguém em cima de você traz um pouquinho de responsabilidade. Não sei se aumenta. Acho que é igual pra todo mundo. Embora eu seja muito dramática e talvez esteja sofrendo um pouco mais (risos). Mas realmente acho que todas nós vamos fazer o melhor. O que a gente podia até o Pré-Exame, tende a ser potencializado porque escolhemos pessoas para nos ajudar que a gente realmente acha que vai explorar esse lado nosso.

O que esse colar da Vermelha representa pra você?
Representa muita coisa. Acho que não só representa o início de um novo ciclo, de uma nova caminhada, de uma visão diferente das coisas. Eu acho que também representa que fomos bons alunos, que tudo que tentaram ensinar pra gente, a gente tentou aprender, e a gente aprendeu. Também significa muita paixão, dedicação, uma explosão de tudo que é muito bom. Sentimentos de medo, de ansiedade, de querer saber o que vai acontecer.  Fazer o exame envolve muita emoção, porque passar pra Vermelha é ser representante da Escola, é virar a cara do Pé Descalço. É o Pé Descalço falando assim: você está pronta pra tentar ser a nossa cara. Acho que representa gratidão também por quem investiu na gente, por quem teve paciência, por quem não teve também, que fez a gente ficar esperto, por quem pegava leve quanto a gente estava cansada e por quem não pegava leve.



A gente sabe também que sempre ocorrem muitas surpresas antes dos exames da Vermelha. O que você acha que vem por aí e qual a importância dessas surpresas?
Acho que a maior surpresa é que o Ítalo vai morrer de chorar. Tadinho, mas vai morrer de chorar. Vai ser surpresa pra ele, acho que nem ele sabe que ele vai chorar (risos). Nos dois últimos exames da Vermelha, eu meio que liderei todas as surpresas: as cartinhas que os meninos receberam, o correio elegante. Eu escrevi à mão, com  a minha canetinha prateada, com glitter. Fazemos isso porque a gente gosta muito da galera e porque a gente quer potencializar, seja durante o dia todo ou durante o exame, o que tem de bom na pessoa. A gente quer potencializar a parte dos sentimentos bons. E acho que se fizerem alguma coisa pra mim, eu vou ficar louca (risos). Sem noção. Acho que vou ficar muito grata a tudo. A cada sorrisinho, a cada pessoa que vai chorar de emoção, a cada um que vai me abraçar no dia, que me abraçou no Pré-Exame, que vai me abraçar depois; a cada pessoa que vai demonstrar algum tipo de reação por ser eu quem estará fazendo o exame. Essa é a surpresa: é você estar lá no meio da quadra e todo mundo, por entender o que aquilo ali significa, está te apoiando e está te mandando coisas boas. E pra quem conhece a gente, vão me desestabilizar emocionalmente com certeza (risos).

Que conselho você daria para as pessoas que também sonham em chegar à Vermelha?
O conselho que o Luiz me deu há muito tempo faz muito sentido na minha cabeça e até hoje é uma coisa que me ajuda muito quando eu estou muito nervosa. É não ter pressa. As coisas acontecem na hora certa, fazem sentido na nossa cabeça. Um passinho que está difícil, um conceito que a gente não entendeu, aquilo ali faz sentido com o tempo e com a prática. Em algum momento, você vai conseguir superar os seus limites e será reconhecido por isso.      

5 comentários :

  1. Parabéns Luisa, vc merece muito estar onde vc está hoje, além de uma excelente dançarina é uma excelente professora que sempre se preocupa com seus alunos com a evolução de cada um. Ter a chance de dançar com vc é mais que um privilégio é uma honra!!! Muito sucesso! Estaremos lá torcendo por vc.

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  2. Você é uma linda e não tenho duvidas de que irá arrasar neste exame, você é sábia, empenhada no que faz, se dedica sem limites.

    Me espelho em você, umas minhas daminhas preferidas.

    Sucesso Lu, vai que é tua roinc..

    Estaremos lá para assistirmos de camarote esse grande espetáculo .


    Amamos você PDNL #ComMalicia <3

    Bela

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  3. Apesar de não conversamos né haha estou torcendo por você Luisa vai arrebentar.

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  4. Luisa, nao poderei ir ao exame neste sabado, mas estarei torcendo muito por todos da PDB e principalmente por vc, pois vc dança muito e merece a vermelha.Alem de ser uma otima professora. Foi bacana ler a entrevista e descobrir que ate vc tem dificuldades com a dança, isso me da ainda mais esperança de um dia conseguir dançar como vcs da PD, pois eu via vcs dançando e achava que pra vcs tudo era facil e eu estava no lugar errado e nao sirvo pra dançar... Gostaria muito de estar com a galera da PDB, mandando muita energia positiva pra vcs, mas estarei vibrando daqui.Boa sorte pra ti e pra todos!

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  5. Luisa, nao poderei ir ao exame neste sabado, mas estarei torcendo muito por todos da PDB e principalmente por vc, pois vc dança muito e merece a vermelha.Alem de ser uma otima professora. Foi bacana ler a entrevista e descobrir que ate vc tem dificuldades com a dança, isso me da ainda mais esperança de um dia conseguir dançar como vcs da PD, pois eu via vcs dançando e achava que pra vcs tudo era facil e eu estava no lugar errado e nao sirvo pra dançar... Gostaria muito de estar com a galera da PDB, mandando muita energia positiva pra vcs, mas estarei vibrando daqui.Boa sorte pra ti e pra todos!

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