quinta-feira, 30 de março de 2017

RETORNO VERMELHO
Em seu segundo exame da Vermelha consecutivo, Luísa Martins quer usar experiência para escrever uma história diferente


Foto: Vinícius Teixeira


Bruno Trindade
Professora, examinadora, com mais conhecimento de dança e mais preparada para encarar o exame da Vermelha. É assim que Luísa Martins chega para tentar, pela segunda vez, alcançar o topo da escola de forró. Nos seis meses seguintes, após se aventurar pela primeira vez na mais nobre avaliação do Pé Descalço, Luísa procurou evoluir, vencer desafios, superar medos e desenvolver a sua dança de forma geral.

O esforço foi recompensado com a sua segunda aprovação consecutiva no Pré-Exame, dando-lhe a oportunidade de participar do exame da Vermelha novamente. Agora, ela quer curtir o momento, mostrar tudo que sabe e controlar o nervosismo para dar um novo show para professores, examinadores, alunos e pra quem mais estiver assistindo.

Em um bate-papo descontraído com o blog do PD Eldorado, Luísa falou sobre tudo que cerca esse grandioso momento de sua vida como dançarina de forró. Confira!


Será o seu segundo exame da Vermelha. Tem alguma diferença desta vez agora para a primeira vez que você fez o exame?
Tem sim. Pelo fato de já ter estado lá uma vez, acho que é esperado uma coisinha a mais, o motivo da reprovação (do exame anterior) melhorado. É diferente. É bem diferente.

Você esperava ser aprovada da primeira vez para o exame da Vermelha? E agora?
Em nenhuma das duas vezes eu esperava ser aprovada. Da última vez, eu dancei na boa. Agora, a mesma coisa. E desta vez, eu tinha torcido o pé um dia antes e aí eu estava mancando de um examinador para o outro, mas deu pra dançar. E os seis meses que se passaram fizeram muita diferença. O que a gente era dançando no último Pré-Exame, a gente é muito diferente hoje, assim como daqui um mês vamos estar diferentes porque as aulas ainda acrescentam muita coisa. Eu nem sabia se eu ia realmente fazer o Pré-Exame, mas aí fui pra dançar e foi super divertido. O ambiente foi muito gostoso. Então, eu dancei bem tranquila.

Essa tranquilidade e a “falta” de cobrança para passar te ajudaram a ser aprovada?
Não sei. Acho que nossa cabeça mexe muito com a gente. Muito mesmo, principalmente comigo. Eu me deixo levar muito pelos sentimentos que estão rolando no dia. Se o astral estiver ruim no lugar, eu deixo aquilo influenciar demais e fico com um astral ruim também. Eu sentia muito essa coisa de que tem que ser imediato, pois eu já passei no último Pré-Exame e, se eu não passasse neste agora, eles (professores e examinadores) iam ficar super decepcionados comigo. Mas depois eu entendi que o que importava era o meu momento. Então, eu só estava preocupada com meu pé (torcido), mas lá estava tão gostoso que eu dancei tranquila, principalmente quando eu dancei com o Ícaro e com o Tales. Eu estava bem, a sintonia com os examinadores no dia me passou muita tranquilidade. Essa sensação de que estava tudo bem, que era um domingo, que em poucos instantes íamos pular na piscina juntos... Estava tudo ótimo. 


 Foto: Vinícius Teixeira

O que você aprendeu na primeira experiência ao fazer o exame da Vermelha?
Que a gente tem que controlar a emoção. Eu entrei lá na quadra e não sabia o que eu estava fazendo lá (risos). Eu fui a primeira. O Rafael me tranquilizou o mês inteiro, mas eu fiquei muito nervosa. E acho que deu pra ver isso nitidamente. Eu passei o exame todo nervosa, aflita e tensa. A gente aprende que não é porque está toda a quadra olhando pra você, não é porque tem uma banca de examinadores, que deixa de ser um momento seu, pra mostrar a sua dança. Não é pra ficar imaginando o que eles querem, ou tentar agradar a todo mundo, pois fazendo isso a gente acaba se perdendo no caminho. A gente está sempre dançando em pares, mas o motivo de dançar não é pra agradar o outro. É de estar ali pra se divertir. E acho que eu perdi muito isso no meu primeiro exame.

Você sabe que precisa dar um show. Como trabalha isso na sua cabeça?
Esse show tem vários aspectos: tem os aspectos estético, de energia e de sintonia. Quando ninguém está olhando, você dança como se fosse um espetáculo, pensando em um bom acabamento dos passos, em uma sintonia boa com o par, porque isso é bonito. Talvez seja isso que a gente tenha que trabalhar. É dançar pensando que lá na hora, você vai ter que se divertir, vai ter que se soltar e que não deixa de ser um show. É preparar o psicológico - a Luísa precisa muito disso (risos). É trabalhar essa energia com os três examinadores muito bem, pois acho que o resto do show é a energia do momento.

 O que a Luísa Martins vai fazer de diferente neste exame da Vermelha?
Acho que vou tentar ficar tranquila. Acho que desta vez, eu vou aproveitar o meu exame. Vou dançar sem medo de quem tá me olhando, sem medo do examinador que vai vir. Acho que desta vez vou mais preparada para as variedades, de tudo. Agora pode cair qualquer música, vir qualquer examinador. A gente vai trabalhar essa ideia, de ter confiança no meu corpo, da minha proposta de dança, de lá na hora encaixar a energia e ir junto. Acho que vai dar certo, vai ser bom e eu vou aproveitar, independentemente dessas coisas.


Foto: Vinícius Teixeira

Você se sente mais preparada agora?
Não, nem um pouco. Dá o mesmo frio na barriga, o mesmo medo de fazer merda, mas estou tentando me sentir preparada. Se eu vou estar ou não, é outra coisa (risos).

 Algumas pessoas fizeram o exame da Vermelha mais de uma vez e se disseram privilegiadas por isso. Você também se sente assim?
É lindo. Poder escolher tudo de novo, ter, neste mês, a atenção de um dos examinadores... é um presente maravilhoso mesmo, ainda mais por saber que a decisão de todos trouxe você de novo ao exame da Vermelha, mesmo depois de um fracasso. Isso é legal. A gente cai depois de não passar e acho que isso acontece em qualquer nível, não só pra Vermelha. A gente sente que todo esforço não valeu de nada. Aí, de repente, você vai retomando seu gás e eles (examinadores) falam: calma, vem de novo, apresenta de novo pra gente, não desiste porque a gente não desistiu de você. Acho que é isso. Talvez essa segunda aprovação é a prova de que eles não desistiram de você. Eles ainda querem te ver lá. É ótimo.

Muitas pessoas têm dificuldades para serem aprovadas no Pré-Exame e você conseguiu por duas vezes consecutivas. Sabe explicar o motivo disso?
 É difícil pensar como eles (examinadores) e saber o que eles querem. Mas talvez seja por não ter deixado a peteca cair, por continuar dando raça. Quando a gente não passa, a gente fica se perguntando o porquê de não ter passado. Como a gente não recebe um feedback pós-exame da Vermelha, a gente vai tentando consertar tudo. Você não sabe onde você errou. Talvez um deles acha que faltou isso, outro acha que faltou aquilo, e no conjunto, não deu bom, Então, você vai buscando melhorar tudo, correndo atrás deles, perguntando, dançando, pedindo feedbacks, tentando. Talvez tenha sido por isso que eu passei de novo. Eu me preocupei demais por não ter passado, da minha dança cair totalmente. Então, eu comecei a me desesperar, a dançar demais, a dançar loucamente – claro que isso foi depois de passar duas semanas em casa, debaixo do cobertor, chorando (risos). Você vai repensando a sua dança toda, vai a reestruturando, e aí chega lá e o projeto que você apresenta pra eles de novo é satisfatório e eles te dão uma nova chance.

 Foto: Reprodução / Facebook


O que passou na sua cabeça quando ouviu o seu nome?
Nada, porque foi o primeiro nome a ser falado. Eu não tinha condição psicológica nenhuma pra escutar o meu nome primeiro (risos). Eu a Gabi nós passamos em todos os exames juntas, desde a branca. Tudo. A gente sempre ia na mesma rodada. E nesse último Pré-Exame, também foi assim. Por isso, sempre fomos muito unidas em relação a isso. A gente estava juntinha na hora do resultado, uma segurando a mão da outra, abraçadinha e o PD Eldorado todo em volta da gente. Eu, realmente, esperava ouvir o nome dela antes do meu. Na verdade, achei que era o nome dos homens primeiro. Mas aí veio o meu nome. Acho que representa um alívio pra Luísa que passou o mês inteiro preocupada. Pra Luísa de sábado, que descobriu que estava tudo bem se não passasse, foi um presente. Aí, você pensa: o que eu vou arrumar lá no meio de novo? Depois, eu fiquei animada, emocionada, comecei a chorar. E veio o nome da Gabi logo depois. Parece que a energia se encaixou. A gente já se abraçou ali e, aí sim, caiu a ficha que estaríamos juntas lá de novo. E mesmo que cada uma tenha uma proposta de dança muito diferente uma da outra, saber que faremos juntas o exame da Vermelha fez com que eu ficasse muito mais emocionada. Eu fiquei muito feliz por eles me darem essa segunda chance, por meus últimos seis meses terem me garantido, por ter dado a volta por cima do último não, por ter conseguido um sim (de novo). É muito bom pensar em todo mundo que investe em você, que coloca fé em você, é muito gratificante. E fazer junto com a Gabi então, vai ser ótimo.


Porque você escolheu o Ítalo para fazer o exame da Vermelha com você?
Porque o Ítalo foi a pessoa que me segurou aqui no Pé Descalço quando eu passei por uma fase péssima, de não me acostumar com a roda da preta. Era aquela loucura e eu falava que não dava conta de dançar. E ele falava: ‘dá sim, vamos!’. Eu sabia que (para o exame da Vermelha agora) eu ia passar o mês com uma pessoa que me deu suporte nesses três meses e meios que estou no PD, entende?! A gente ia intensificar esse suporte e vai ser ótimo porque é um momento muito importante pra mim, e vai ser mais importante ainda por poder dividir com ele.

Como estão sendo os treinos?
Os treinos estão ótimos, o Ítalo é ótimo, estou toda machucada do aéreo (risos), mas está tudo bem. Vai dar tudo certo.
                                Foto: Reprodução / Facebook


 Desta vez, como foi a escolha do xote?
Todos nós (examinados) estamos muito confusos. No grupo do whatsapp do exame da Vermelha, acho que cada um tem, pelo menos, três xotes (tirando o Juju, que é maravilhoso e já escolheu o dele). Eu tenho cinco xotes pra poder escolher, a Ju também. Tem muita coisa que a gente gosta. Tem xotes totalmente diferentes uns dos outros e não faço ideia de como vou escolher. Acho que, mais perto do dia, eu vou dançar todos eles e aí vamos ver qual vai dar ‘aquilo’. Desta vez, eu não estou ligada em nenhum xote como estava antes. 

O que vai levar em consideração para definir o xote?
Acho que o feeling que a música passa. Às vezes, nem é a letra, que não tem nada a ver com a nossa vida, mas dançar a música ali... Vou ter que sentir o que eu quero. Vou levar em conta o que ela vai despertar em mim.

O que está pretendendo fazer no passo aéreo?
O aéreo que estamos tentando agora, talvez não seja realmente o que a gente vá fazer, porque ele é realmente complicado. A entrada dele nunca foi usada, ninguém nunca entrou no aéreo daquele jeito. É um aéreo de força e talvez por isso a gente não use, pois é complicado sincronizar as forças. A gente está tentando esse aéreo, mas estamos abertos a outros aéreos também. Não mostramos pra muita gente. Mostramos para os meninos aqui da unidade pra conseguir a ajuda deles, que tem mais técnica, porque eu e o Ítalo não costumamos fazer muita aula de aéreo. É um aéreo muito diferente. A entrada dele vai causar. O resto, acho que nem tanto. Está tudo roxo, mas vai ficar lindo.
 
O psicológico, você já disse, te influencia muito. Como trabalhar a confiança pra fazer esse exame de novo?

Trabalhar a confiança é dançando, encarando os medos. Por exemplo, o medo de dançar música rápida, que eu sempre tive. Isso já se resolveu - na verdade, ainda não se resolveu totalmente (risos) -, deu uma amenizada porque eu enfiava a cara lá, dançava com quem eu tinha dificuldade de dançar, e aí você vai descobrindo que tem mais força do que você achava que tinha. E essa confiança também vem muito do apoio que a gente recebe. Os alunos estão vibrando muito. A Gabi, o Juju e eu estamos bem unidos, conversando muito, dançando muito entre a gente, e discutindo bastante sobre o exame, pedindo ajuda um para o outro. Esse companheirismo te dá uma base tão forte de segurança, que você fala: nossa, tem gente ali por mim. Aí tudo bem, a gente encara. Eu acho (risos).



Foto: Reprodução / Facebook


O que esse exame da Vermelha representa pra você?
Significa que a gente conseguiu dar a volta por cima após receber um não, e é difícil receber ‘nãos’. A gente buscou melhorar, não deixou aquilo ali abater demais, correu atrás e talvez seja a grande realização desta vez. Se for outro não também, o terceiro (exame) vai significar muito mais. Mas chegar ali duas vezes... talvez signifique que continuamos sendo bons alunos, que continuamos aprendendo, e é isso aí. É a segunda chance e a gente não ganha uma segunda chance à toa. Significa a confiança deles (examinadores) em mim; significa que a gente está buscando e que está chegando em algum lugar; significa que um não... não representa o fim.

Sua responsabilidade é maior por estar fazendo o exame pela segunda vez?
Não sei se é maior. Acho que a expectativa pode ser maior, mas a responsabilidade, não. Tudo bem que você está ali para um show, mas você também está ali para ser avaliado e, se não for dessa vez de novo, tudo bem. Será que uma terceira vez aumentaria ainda mais a responsabilidade? Acho que não. Em seis meses, a gente muda tanto que não tem como esperar a mesma coisa. Ou vai ter aquela mesma coisa muito melhorada, ou então já não é aquela mesma coisa. Meu conhecimento mudou, meu corpo mudou. Então, acho que não aumenta a responsabilidade. Acho que aumenta a expectativa. 

Qual a importância das homenagens e surpresas para a pessoa que está lá no meio fazendo o exame?
De verdade, lá na hora você não vê nada (risos). Eu vi que os meninos entraram com faixas, que eu não conseguia ler, pois estava com os olhos cheios de água (risos). Cada palavrinha que a gente escuta aqui dentro (do Pé Descalço) de motivação durante o mês (antes do exame) são surpresas. São surpresas que contam muito. Quando um aluno chega e fala: ‘você vai fazer o exame da Vermelha né? Nossa, estou torcendo muito por você! Pra mim, você já é Vermelha, merece muito’. Isso, já é uma surpresa. Você já vai pra lá sabendo que tem pessoas por você, pessoas que vão olhar e dizer que é o exame que elas mais estão esperando. Acho que as surpresas na hora só sobem o astral da gente, de ver que as pessoas se importaram em fazer alguma coisa pra te dar esse gás. E é isso que conta, e não tanto o que está escrito. O que as pessoas estão te passando durante os dias, na hora do exame, é muito importante.

  Foto: Vinícius Teixeira

Porque você deseja ser uma Vermelha?
Porque, humildemente falando, eu acho que tenho muita coisa pra acrescentar para o Pé Descalço como professora, como examinadora. Eu espero ser muito útil para o projeto. E acho que ser vermelha é mostrar que o projeto foi útil pra mim, a ponto de me tornar útil pra ele. É ver que o projeto em que você acreditou, também acreditou em você pra que você desse continuidade àquilo. Ser Vermelha é o ideal, é assumir a cara da escola. Chegar à Vermelha é mostrar que o projeto está totalmente em você. É a hora que você pode se abrir e se colocar útil para ajudar ainda mais outras pessoas a também chegarem lá.

Está confiante? 
Estou, super (risos). Eu estou confiante que eu vou estar bem na hora, que vou dançar tranquila.

 Foto: Vinícius Teixeira

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